sábado, 13 de agosto de 2011

A crise capitalista se espalha e as elites brasileiras se fingem de mortas. E a viúva que se cuide!

Marcos A. Pedlowski, artigo publicado no número 208 da Revista Somos Assim



Em julho de 2011 o bilionário George Soros decidiu, quase em surdina, fechar o seu fundo de investimentos, o “Quantum”, e devolver cerca de 1 bilhão de dólares a seus clientes. Este movimento de Soros foi explicado por seus filhos como uma resposta às novas condições impostas sobre o tipo de fundo com que ele formou a 46a fortuna pessoal do mundo, segundo o ranking da Revista Forbes de 2011. Mas quem conhece minimamente as idéias de Soros sobre os problemas trazidos pelo processo de globalização ao funcionamento da economia mundial pode desconfiar que neste angu tenha caroço. Afinal, já em um dos seus livros publicado em 2005, que no Brasil foi prefaciado pelo Senador Cristovam Buarque (PDT/DF) e cujo titulo em português é o lacônico “Globalização”, Soros afirmava que a internacionalização da economia, apesar de desejável, resultou num processo muito assimétrico de distribuição da riqueza. Isto seria um reflexo do fato de que os mercados e o comércio global seriam muito bons para gerá-la, mas seriam ineficientes na resolução de problemas de natureza coletiva como a proteção do ambiente e a defesa dos direitos humanos. Além disso, neste mesmo livro, Soros criticava os EUA por não investir em instituições multilaterais que pudessem promover uma melhor equalização da distribuição da riqueza.

Apesar de parecer que as idéias de Soros estão em contradição com o seu papel de mega especulador internacional, isto se explica pela preocupação de Soros de que em seu afã de explorar a riqueza, os grandes capitalistas não acabariam matando a galinha de ovos de ouro, que é o próprio sistema econômico que permite um processo de acumulação de riqueza nunca visto na história humana. Daí se depreende que Soros não é um bom samaritano, mas um observador astuto do processo de crise sistêmica em que o Capitalismo está imerso. Aliás, em sintonia com as proposições de Soros, um grupo de bilionários norte-americanos prometeu doar a metade de suas fortunas para instituições de caridade, para que estas pudessem gerar estímulos para dinamizar a vida social que recuperassem a capacidade produtiva da economia norte-americana. Ainda que na sociedade norte-americana a questão da doação de grandes somas de dinheiro seja um fato corriqueiro, o movimento que inclui figuras como Bill Gates e Warren Buffett, vai além da mera caridade: representa uma tentativa sem precedentes de fortalecer o chamado terceiro setor para que este possa dinamizar as áreas que tanto o mercado como o Estado não conseguem.

Mas movimentos como os realizados por Soros, Gates e Buffet, em que pese a riqueza acumulada por estes três personagens, têm sido residuais dentro de uma economia globalizada que continua operando de forma bastante dicotômica já que, enquanto novos bilionários continuam pipocando por todas as partes do planeta, os sintomas de uma crise continuam aparecendo, e a instabilidade da economia capitalista está cada vez mais evidente. Só o fato de que as bolsas norte-americanas, em apenas dois dias, concentraram perdas que apagaram toda a riqueza gerada ao longo deste ano, é um sintoma preocupante. Além disso, a crise financeira em que os Estados Unidos se encontram reflete um problema ainda mais grave, na medida em que a principal economia do planeta continua dando sinais claros de que está passando por graves dificuldades - o verdadeiro malabarismo político e fiscal engendrado por Barack Obama para evitar que os EUA dessem o calote na sua divida pública demonstra o grau de delicadeza do problema.

Em sintonia com a crise norte-americana, a situação de quase implosão financeira da União Européia adiciona uma dimensão ainda maior de gravidade aos problemas que ficaram expostos a partir da quebradeira causada pela crise das hipotecas norte-americanas. Assim, a seqüência de casos de membros da aliança européia que se vêem incapazes de honrar suas dividas é um testemunho perfeito de que a situação é grave, mais especialmente para a classe trabalhadora. Afinal de contas, a receita preferida pelos governantes em dificuldade tem sido abolir direitos e restringir a cobertura dada pelo Estado em serviços essenciais como saúde e educação.

E o que sobra para o Brasil nisto tudo? A mera observação do grau de dependência da economia brasileira em relação aos mercados internacionais indica que seria necessário que fossem tomadas medidas para reverter essa situação. No entanto, não é isto o que se vê. A verdade é que no nosso caso não existem bilionários iluminados que estejam se movimentado para doar fortunas ou que, no mínimo, se comprometam a diminuir as bocadas que realizam no dinheiro público. Aqui, o que se vê é a ação de uma elite parasitária que adora falar contra as tênues tentativas de regulação feitas pelo Estado, mas minimamente disposta a viver pelas próprias pernas. Aliás, muito pelo contrário, pois em face de dificuldades menores o que assistimos é uma corrida desembestada em direção ao Estado para que as eventuais perdas sejam cobertas com dinheiro público – o BNDES que aguente. Com elites como essas, que ninguém se surpreenda se de uma hora para outra, o Brasil não virar a bola da vez.