A matéria abaixo produzida pelo Jornal Valor Econômico mostra os efeitos perversos de um aspectos da concentração da propriedade das terras no Brasil visando a produção de commodities agrícolas.
Acabaram com a pequena produção familiar, monopolizaram a indústria da produção de sucos. Assim, atualmente a produção de laranja de todo o Brasil é controlada por apenas três grupos, todos eles associados a empresas transnacionais.
Até recentemente 80% da produção obtida nos grandes latifúndios citricultores, muitos deles construídos através da grilagem de terras públicas, era voltada para a exportação. Enquanto isto, a imensa maioria do povo brasileiro não tinha direito a tomar suco de laranja.
E agora que o mercado mundial para suco de laranjas se esgotou, e o latifúndio agro-exportador tem para onde vender, voltam a pedir que o governo resolva os seus problemas. Assim, é muito fácil ser capitalista!
Faltam saídas para a crise da laranja
Da Redação, vvalor economico, 03 de julho 2012
Conforme avança a colheita de laranja em São Paulo e no Triângulo Mineiro, que formam o maior parque citrícola do mundo, cresce a sensação na cadeia produtiva de que uma crise de grandes proporções causada por mais uma superssafra
Conforme avança a colheita de laranja em São Paulo e no Triângulo Mineiro, que formam o maior parque citrícola do mundo, cresce a sensação na cadeia produtiva de que uma crise de grandes proporções causada por mais uma superssafra, a segunda consecutiva, será mesmo inevitável neste ciclo 2012/13.
Produtores e indústrias seguem em negociações com os governos federal e paulista em busca de apoio para "enxugar" o mercado e evitar que os preços pagos pelas empresas exportadoras de suco a seus fornecedores da fruta desabem e que uma nova onda baixista deprima ainda mais as cotações da commodity.
Conforme apurou o Valor, nas reuniões realizadas nas últimas semanas em Brasília, indústrias e produtores não colheram mais do que sinais de que a Linha Especial de Crédito (LEC) - lançada no ano passado para garantir, com o financiamento da estocagem de suco, o escoamento da colheita recorde da fruta em 2011/12 -, seja de fato prorrogada.
Quando a linha foi lançada, as cotações internacionais do suco ainda estavam elevadas e foi garantido ao citricultor um preço mínimo de R$ 10 por caixa de 40,8 quilos que fosse ser transformada no suco que seria estocado. As conversas em curso cogitam garantir entre R$ 6 e R$ 10, a depender do volume que teria de ser comprado.
Afora a prorrogação da LEC, sabe-se que também já foram iniciadas negociações com o governo de São Paulo e com a prefeitura da capital do Estado em busca de um programa nos moldes do "Leve Leite". Pelo preço de custo, poderiam ser escoadas até 70 mil toneladas de FCOJ.
"Acredito no mercado doméstico. Os brasileiros consomem cerca de 400 mil toneladas de suco por meio da compra de laranja in natura. Esse mercado tem de ser trabalhado com planejamento", diz Maurício Mendes, presidente da Informa Economics FNP e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi).
Segundo ele, enquanto não são encontradas soluções para escoar a superssafra, a situação fica cada vez mais delicadas. Nesta semana, por exemplo, as grandes indústrias (Citrosuco /Citrovita, Cutrale e Louis Dreyfus Commodities) devem começar a processar a fruta comprada por terceiros, e as variedades precoces estão saindo por R$ 5 a caixa.
Segundo informou na semana passada a Secretaria da Agricultura de São Paulo, a produção de laranja do Estado deverá somar 365,25 milhões de caixas na atual temporada, uma queda de 5,1% em relação à colheita anterior mas, ainda, assim, muito acima da média da última década. No atual andar da carruagem, estima-se que pelo menos 60 milhões ficarão sem compradores.
Paralelamente, as exportações brasileiras de suco de laranja continuam em queda. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), somaram 125,8 mil toneladas e renderam US$ 175,6 milhões em junho passado. O volume embarcado foi 0,5% inferior ao de maio e 30,3% menor que o de junho de 2011. Já a receita cresceu 8,2% em relação a maio e caiu 12,8% sobre junho de 2011. Esse crescimento da receita embute uma leve recuperação dos preços em junho. Na bolsa de Nova York, os contratos futuros de segunda posição de entrega subiram 3,2% nos últimos 30 dias, segundo o Valor Data, mas ainda acumulam queda de 30,6% em 2012.
Além da tendência de retração da demanda global pela commodity, colaborou para as quedas das exportações o bloqueio de cargas de FCOJ brasileiro nos EUA, em razão da presença do fungicida carbendazim, proibido no mercado americano e já evitado também no Brasil.