A VELHA POLÍTICA DO CHORAR LÁGRIMAS DE CROCODILO SOBRE O LEITE DERRAMADO
Venho acompanhando a questão do desmatamento na Amazônia desde 1991 quando fui para Rondônia iniciar uma série de estudos que duraram quase 20 anos. Uma coisa que aprendi é que toda vez que os governos anunciavam a intenção de ampliar a proteção do meio ambiente, os latifundiários ampliavam a área desmatada e criavam uma pressão quase inevitável para que o cenário a ser monitorado já estivesse de acordo com suas necessidades.
A situação que temos agora em relação à demora da aprovação da nova versão do Código Florestal é um exemplo de como a demora das definições acaba sendo usada pelos que querem ampliar a área sem florestas na Amazônia.
O pior agora é ter que ouvir os representantes do governo Dilma virem a público dizerem que não têm certeza de que uma coisa está ligada a outra ou não. Ora, é óbvio que estão ligadas. O problema é o que o governo Dilma vai fazer para garantir que no plenário da Câmara de Deputados e do Senado não vejamos a aprovação de uma legislação que seja uma verdadeira licença para ampliação indiscriminado do desmatamento em todos os biomas florestais do Brasil.
Ministra do Meio Ambiente diz não saber se aumento do desmatamento está associado ao Código Floresta
BRASÍLIA - A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse nesta quarta-feira que o pico do desmatamento na região Amazônica registrado entre agosto de 2010 e abril deste ano é "assustador" e "atípico". Ela explicou que ainda não sabe quais as causas e, por isso, não é possível associá-lo com as incertezas em torno do Código Florestal.
Na coletiva, a ministra também anunciou que foi criado um gabinete de crise, com a participação da Polícia Federal, do Ibama e da Força Nacional, além da Polícia Rodoviária Federal. A ministra informou ainda que enviou 500 agentes para o Mato Grosso para evitar mais desmatamento.
Segundo dados do sistema de monitoramento por satélite Deter foram derrubados 1.848 quilômetros quadrados de floresta no período. A área desmatada representa um aumento de 27% com relação ao mesmo período anterior. E a maior parte fica no Mato Grosso.
Quem apostar no desmatamento para botar boi vai ter seu boi apreendido e destinado ao programa Fome Zero
- Quero dizer aqui claramente: quem apostar no desmatamento para botar boi vai ter seu boi apreendido e destinado ao programa Fome Zero. Quem apostar no desmatamento para plantar vai ter sua produção apreendida e destinada ao programa Fome Zero. A ordem é sufocar o crime ambiental - alertou a ministra.
Presente a divulgação dos números o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, também ameaçou os desmatadores:
- As pessoas que estão na mata e acham que podem desmatar impunemente que ninguém está vendo, nós estamos vendo - disse Mercadante, que participou da solenidade porque o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), órgão responsável pelo monitoramento via satélite, é ligado à sua pasta.
Em Mato Grosso, foram desmatados 733 quilômetros quadrados no período de agosto de 2010 e abril deste ano. A área derrubada é 47% maior do que a registrada no período anterior e está concentrada em uma mesma região, nos municípios de Alto Boa Vista, Nova Ubiratã e Bom Jesus do Araguaia.
As negociações em torno do Código Florestal permanecem em andamento, mas a matéria está pronta para ser votada pela Câmara.