TRABALHO ESCRAVO DE CRIANÇAS NO CORAÇÃO DO AGRONEGÓCIO PAULISTA
O latifúndio travestido de agronegócio é saudado como símbolo da vitória da modernidade na agricultura brasileira, e artistas globais são contratados para lhe conferir legitimidade. Mas não há nada como uma operação de repressão ao trabalho escravo para provar que esta suposta modernidade é apenas uma farsa. Vejam notícia abaixo dando conta da descoberta de trabalho escravo envolvendo até crianças no rico município de São Carlos, símbolo da "modernidade" do latifúndio paulista.
Pois é, se colocar crianças em condição de trabalhador escravo for modernidade, o latifúndio é muito moderno.
Ministério Público do Trabalho encontra crianças em trabalho escravo e alojamentos precários
Além de sete crianças, entre 7 e 15 anos, em situação de trabalho escravo em uma fazenda de São Carlos, a fiscalização do Ministério Público do Trabalho (MPT) encontrou, nesta quinta-feira (27), famílias vivendo em alojamentos precários e várias irregularidades trabalhistas.
O MPT contou com o apoio da Polícia Militar e Conselho Tutelar. Um menino de 7 anos foi encontrado trabalhando com o pai na plantação de tomate da propriedade. Ele já passou mal por causa do veneno, já que não há nenhum tipo de proteção durante a aplicação.
Uma outra criança, de 10 anos, conta que está proibida de ir à escola. “A gente quer ir, mas o patrão disse não pode faltar na roça”, disse.
O expediente durava quase 10 horas. “A gente vem às 7h30 e volta 17h”, explicou um menino de 10 anos.
As sete crianças não recebiam salário. “Trabalhamos para ajudar os pais, não ganha nada. Não tem descanso. Só de sexta e ele ainda arranja serviço pra gente fazer”, disse uma delas.
Além disso, os trabalhadores rurais do local não estão registrados. Eles recebem os R$ 600 de salário em um cheque pré-datado para 30 dias. Eles ainda só podem fazer compras em um supermercado indicado pelo patrão. “A gente faz lá e desconta 3%. Pra mim é coisa de escravo”, disse o trabalhador rural Maurici Henrique dos Santos.
Alojamentos
Ao todo, seis casas usadas pelas famílias foram interditadas por irregularidades.
Em uma delas, os moradores têm que cozinhar em um fogão a lenha. Parte do teto da cozinha está destelhado. Sem geladeira, os alimentos são armazenados de forma inadequada.
Com apenas um quarto, o casal dorme na sala. Em outro cômodo, que não tem iluminação, dormem quatro crianças. As camas foram improvisadas em cima de caixas e até de uma geladeira antiga.
Muitas casas estavam com fios elétricos expostos. Os fiscais também encontraram caixas d’água sujas e veneno jogado perto de um rio.
Outro caso
Essa foi a terceira fiscalização no mesmo lugar. O gerente regional do trabalho de São Carlos, Antônio Valério Morillas Júnior, não tem muita esperança de que os problemas acabem de uma vez. “O que nos deixa preocupados é que a lei é branda. As penalidades são bem pequenas”, lamentou.
Em 2009, a reportagem da EPTV acompanhou uma vistoria na mesma fazenda e também foram encontradas cinco crianças trabalhando, sendo duas de 13 anos. Na época, os trabalhadores contaram aos fiscais que não tinham dia de descanso e nem carteira assinada. Além da falta de equipamentos de segurança, as moradias eram inadequadas.
O dono da fazenda e o arrendatário, que não foram localizados para falar sobre o assunto, devem responder exploração do trabalho infantil, crime ambiental, trabalho escravo e racismo, que foi denunciado por um trabalhador.
Os trabalhadores, que devem ser retirados da fazenda e receber seguro desemprego, vão prestar depoimento no Ministério do Trabalho na manhã desta quinta-feira (27) e, depois disso, o dono da fazenda e o arrendatário serão notificados.
De acordo com Morillas, o Conselho Tutelar vai acompanhar as crianças e fazer com que todas voltem a estudar.