domingo, 23 de outubro de 2011

POR QUE A POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO NÃO LOTA AS RUAS EM DEFESA DOS ROYALTIES?

A atual disputa em relação à divisão dos royalties do petróleo vem se concentrando nos gabinetes e corredores do Congresso Nacional. Em nenhuma parte do Brasil, seja nos ditos estados e municípios produtores ou naqueles rotulados de não produtores há qualquer mobilização social significativa em prol de uma coisa ou outra.

No Rio de Janeiro, o estado que tem mais a perder nesta querela fiscal, a divisão das forças políticas que apoiam o governador Sérgio Cabral e seu padrinho político e atual desafeto, o ex-governador e atual deputado federal Anthony Garotinho, impediu a realização de qualquer ato massivo que expressasse uma virtual indignação do povo fluminense. 

Mas mesmo se estes grupos tivessem se unido acima dos seus interesses particulares, a chance de que mobilizações de massa ocorressem era muito diminuta. E por que isto? As razões são muitas, mas podem ser reduzidas a dois fatos básicos;

1) a imensa maioria da população do Rio de Janeiro, especialmente na escala municipal, não sente motivada a participar de uma luta para a qual não vê proveito algum. Afinal de contas, em mais uma década de transferências bilionárias de royalties, a miséria continuou a mesma e, pior, o que se viu foi o aparecimento de uma nova casta de milionários cuja origem está associada, ao menos no imaginário popular, à apropriação indébita dos recursos que deveriam ser aplicados em prol da coletividade. Quem duvidar disto é só percorrer  áreas onde o povo mais pobre circula, como é o caos do Mercado Municipal de Campos, e ouvir o que as pessoas dizem.

2) As forças políticas que dominam o Brasil neste momento tem verdadeira ojeriza para a organização popular, preferindo sistemas que mantem o povo no cabresto das políticas mitigatórias que apenas resvalam nas questões estruturais. Assim, nos momentos de disputa intensa, é inócuo esperar que repentinamente apareçam milhões de pessoas para se manifestar. Aliás, as forças que se degladiam nutrem um medo e uma ojeriza comum pela organização autônoma da sociedade. Deste modo, se este ou aquele grupo tenta pontualmente chamar o povo à luta, já o fazem sabendo que as chances de que haja uma resposta positiva são mínimas. Por isto, preferem atos que apenas vagamente relembram o que já aconteceu no Brasil como a campanha das Diretas Já. E mais ainda, estas forças políticas torcem para que o vírus da luta popular que aparece hoje nas ruas de todo o mundo fique bem longe do Rio de Janeiro, pois sabem que se isto acontecesse os seus pequenos feudos políticos ruiriam como se estivessem sendo bombardeados pelas forças da OTAN.

Por estas e outras é que a luta pela manutenção do atual status quo da divisão dos royalties está praticamente  perdida. E que ninguém venha jogar uma culpa que lhe cabe nas costas da população. Esta continuará sofrendo as consequências da existência de elites políticas que sempre colocam suas questões privadas acima das de caráter coletivo. Com ou sem royalties.