Presidente boliviano cancela projeto de estrada que cortaria Amazônia
O presidente da Bolívia, Evo Morales, cancelou nesta sexta-feira (21) a construção de uma estrada financiada pelo Brasil que atravessaria a reserva ecológica Tipnis, na região amazônica, a qual declarou patrimônio intangível, atendendo um pedido de indígenas amazônicos que protestaram em uma marcha que durou 65 dias.
O cancelamento da obra está indicado em uma emenda enviada ao Congresso, de maioria governista, e que deve ser votada ainda nesta sexta-feira. "Foi disposto que a estrada Villa Tunari-San Ignacio de Moxos ou qualquer outra não atravessará o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis)", disse Morales em coletiva de imprensa.
"Portanto, o tema Tipnis foi resolvido", afirmou o presidente, após explicar que as emendas sugeridas ao Congresso atendem as demandas dos indígenas amazônicos. "Isso é governar obedecendo o povo", disse Morales.
O presidente fez o anúncio pouco antes de se reunir com os manifestantes indígenas, que chegaram na quarta-feira a La Paz e aguardavam em frente ao Palácio de Governo para iniciar um diálogo com o presidente, frustrado na quinta-feira em três ocasiões.
Reivindicações
A decisão presidencial abre caminho para outras 15 demandas indígenas, pois soluciona o principal tema que motivou uma marcha de 65 dias que percorreu 600 km até chegar à sede de governo.
O Parlamento havia aprovado uma lei que suspendia a construção de um trecho da estrada, dispondo a realização de um processo de consulta nas regiões envolvidas, mas após a decisão de Morales tudo isso também se anula.
Além disso, "o Tipnis foi declarado zona intangível", disse o presidente, o que reforça sua qualidade de área protegida, onde não poderão ser realizados outros projetos econômicos.
Morales declarou que qualquer "assentamento ou ocupação" dessa área protegida "será passível de expulsão com intervenção da força pública".
A decisão de Morales ocorre após um forte conflito que durou mais de dois meses, nos quais os indígenas receberam um forte apoio popular, especialmente após ter sofrido uma violenta repressão em 25 de setembro após uma tentativa falha da polícia de dispersá-los.