segunda-feira, 3 de setembro de 2012

REVISTA SOMOS REVELA: ÁGUA DE ABASTECIMENTO DE CAMPOS CONTÉM CIANOBACTÉRIAS E OUTROS BICHOS MAIS


A última edição da Revista Somos Assim traz uma matéria que deverá (ou pelo menos deveria) resultar numa reação em cadeia envolvendo a concessionária Águas do Paraíba, a Prefeitura de Campos dos Goytacazes e o Ministério Público. 

Afinal, o que a matéria abaixo traz à tona é um caso gravíssimo envolvendo a qualidade da água que chega em nossas torneiras e, lembro, a um precinho bem salgado. Mas o sabor de sal é o de menos nesse imbróglio privatizado, visto que a legislação vigente (ao contrário do que ainda é válido para a situação dos micro-poluentes emergentes) é muito clara: a água de consumo não pode conter cianobactérias e, muito menos, vermes.

Agora vamos ver se esse ruidoso silêncio que ronda os negócios relativos à água de abastecimento em nossa cidade finalmente saem debaixo do grosso véu de silêncio que só a Revista Somos Assim tem tido a disposição de quebrar.

A população de Campos merece não apenas respostas, mas medidas urgentes para garantir que a água que nos é servida seja realmente insípida, inodora e incolor.



Mais Cianobactérias e, também, vermes, na água de Campos
Por Esdras


Pesquisadores da Uenf novamente identificam Cianobactérias e vermes na água tratada pela Águas do Paraíba

Pesquisas identificaram cianobactérias, outras algas e, também, vermes na água tratada

Em março, a Somos Assim e o blog trouxeram a público a identificação de cianobactérias, do tipo cinecosiste, potencialmente perigosas na água tratada de Campos, pelos pesquisadores da Uenf, Dra. Marina Suzuki (Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSC e Doutorado em Biociências e Biotecnologia pela Uenf, atuando no LCA-CBB-Uenf), e Dr. Carlos Resende (mestrado e doutorado) – LCA-CBB-Uenf Pesquisa: Biogeoquímica de ecossistemas aquáticos.

Na ocasião, várias famílias entraram em contato com a revista relatando que seus membros ficaram doentes após o consumo do líquido.

Mesmo após as denúncias da Somos e do blog sobre a gravidade do problema, a concessionária Águas do Paraíba manteve-se impassível sem dar satisfação ao público sobre a real situação. Preferindo divulgar uma suposta paralisação de “rotina” no fornecimento para manutenção e tentar desqualificar o trabalho dos pesquisadores e da Somos e do blog.

Águas do Paraíba tentou desqualificar pesquisas

Após a publicação das matérias com pareceres técnicos de especialistas e pesquisadores em recente exibição do programa Página Aberta, da Unitv, o assessor da Águas do Paraíba, o Sr. Adelfran, que nunca foi conhecido pela excelência de caráter, mas sempre pelo excesso de presunção, apesar de não ter formação técnica específica para avaliar a pesquisa realizada com avançadas análises científicas com as quais a empresa que representa não conta, fez questão de desmentir os resultados das análises na água tratada de Campos. Sem o menor embasamento científico, ou comprovação por laudos do mesmo nível técnico das pesquisas realizadas, mas representando muito bem o seu triste papel, o jornalista Adelfran disse na ocasião que não existe possibilidade de a água tratada pela concessionária Águas do Paraíba conter elementos que prejudiquem a saúde da população.

Na ocasião, as declarações do Sr. Adelfran foram rebatidas por outra autoridade em água, a Drª Cristina Canela (Doutora em Química e Professora Associada do Laboratório de Ciências Químicas do Centro de Ciências Tecnológicas da Uenf):

“Eu cheguei a ouvir a entrevista e, realmente, achei a declaração bastante infeliz. Embora ele deva ter muitos dados sobre a qualidade da água tratada, como eles não fazem este tipo de análise, ele não pode afirmar nada sobre isso. Depois que estes resultados foram divulgados a primeira vez, nunca fui procurada pela concessionária para falar sobre o assunto. Portanto, acredito que fazemos um trabalho sério, e não vai ser esta declaração que vai me fazer pensar diferente, ou deixar de realizar pesquisas nesta área”.

Novamente cianobactérias na água tratada



Maçaroca de cianobactérias encontrada e que portava nematóides



Pelo que se vê agora, a tal paralisação de “rotina” não deve ter obtido bons resultados. Novas pesquisas realizadas pela Dra. Marina Suzuki, da Uenf, voltam a identificar a presença de cianobatérias na água tratada de Campos.

Como agravante, além das cianobactérias, também foram identificadas clorofíceas e diatomáceas, e até parasitas nematóides (vermes) de espécie não identificada.

Nematóides:

Nematóides são vermes, e várias espécies parasitam o homem, especialmente órgãos do aparelho digestivo, sendo algumas das mais conhecidas a lombriga do intestino – Ascaris lumbricóides – que pode causar fraqueza e irritações alérgicas, Ancylostoma duodenalis e Necator americanus, responsáveis pelo conhecido “amarelão”, Enterobius vermicularis, agente da oxiúrose infantil, Strongyloides stercoralis e outras; Wuchereria bancrofti, parasito do sistema linfático, causa a temida elefantíase.

Cianobactérias na água da Pelinca



Mario Fazza, superintendente da Águas do Paraíba foi alertado mas ainda não tomou providências

Dessa vez, as cianobactérias foram identificadas em amostras de água colhidas em diversos bairros da cidade, inclusive, e democraticamente, na elegante Av. Pelinca, o que mostra um quadro alarmante e com fortes indicações de estar se agravando no sistema de abastecimento da cidade.

Segundo a pesquisadora, nenhum desses organismos deveria ser encontrado na água tratada, e o engenheiro Mário Fazza, superintendente da Águas do Paraíba, foi diretamente alertado por ela sobre a identificação dos organismos na terça-feira, dia 28.

Leia abaixo alguns trechos da entrevista da Drª Marina Suzuki publicada na Somos desse domingo:

Marina: Foi solicitado que nós analisássemos algumas águas que nos foram trazidas aqui em relação à presença de algas. O método que nós utilizamos é o método que normalmente nós utilizamos nas pesquisas em vários sistemas naturais, fazemos a fixação e a sedimentação desses organismos e fizemos a contagem no microscópio. Realmente encontramos a presença de organismos em todas as amostras e, realmente, não seria esperada a presença dessas algas, pois se espera que o tratamento seja eficiente ao ponto de retirar 95,1% ou mais dos organismos fitoplanctontes no processo de tratamento e depois no processo de desinfecção, em que se utiliza cloro e outros materiais, para que isso, na água de abastecimento, seja eliminado de todo, além de contarmos como um sistema de abastecimento subterrâneo, então, não haveria disponibilidade de luz. E sem a disponibilidade de luz, esses organismos não poderiam continuar crescendo.

Somos: Quais foram essas algas?

Marina: Foram algumas cianobactérias, algumas clorofíceas e até mesmo algumas diatomáceas, que realmente não esperaríamos que estivessem presentes na água de abastecimento. Agora, se me perguntarem ‘ela vem realmente da estação de tratamento?’, não posso afirmar que ela venha da estação de tratamento, assim como não posso afirmar que vem de qualquer outro lugar, a não ser que eu tenha todo sistema rastreado. Em função disso eu entrei em contato com Águas do Paraíba, informei a eles que nós tínhamos detectado a presença de algas…

Somos: Há quantos dias eles sabem disso?

Marina: Foi ontem (terça-feira, dia 28) que eu consegui realmente falar com a Águas do Paraíba.

Somos: Quem foi a pessoa que recebeu essa informação?

Marina: Eu falei diretamente com o superintendente e solicitei a ele o envio de amostras da água tratada deles, logo na origem, porque aí nós teríamos uma contraprova se realmente essas algas estariam permanecendo após o tratamento.

Somos: Mas não seria mais indicado que essas amostras fossem colhidas pela equipe daqui?

Marina: Sim, seria o ideal.

Somos: Essas algas tem algum potencial maléfico para a saúde do ser humano? Pode trazer algum problema?

Marina: Em grande quantidade, se elas estivessem no que nós chamamos de fluoração, se desenvolvendo descontroladamente, poderiam trazer, e é por isso que, principalmente as cianobactérias, nós chamamos de potencialmente tóxicas. Mas a presença delas, mesmo em fluoração não quer dizer que elas estejam produzindo toxina.

Somos: E as diatomáceas?

Marina: Diatomáceas e clorofíceas que foram detectadas, poucas, raras, são produtoras de toxina.

Somos: Foi encontrado algum dermatóide?

Marina: Foi-nos trazida uma amostra de uma maçaroca de algas em que nós constatamos que era cianobactéria, e, no meio dessa maçaroca, nós encontramos alguns dermatóides.

Somos: Esse já tem um potencial de passar para o ser humano?

Marina: Nós constatamos a presença, eu não identifiquei realmente esses dermatóides, não sou especialista nesses organismos, então, eu não posso nem dizer que eles possam prejudicar o homem se consumidos ou não.

Somos: Mas vocês colheram água da Pelinca também?

Marina: Foi trazida uma amostra da Pelinca.

Somos: E nessa amostra da Pelinca?

Marina: Também tinha algas na amostra. É importante destacar que a quantidade que nós encontramos nessa água de abastecimento, apesar delas estarem presentes, é uma quantidade baixa.

Somos: Mas não deveriam estar presentes.

Marina: Mas não deveriam estar presentes.

Entrevista completa com Drª Marina Suzuji na Somos dessa semana, nas bancas.

Com a palavra o Ministério Público Estadual