segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A COMPANHIA SIDERÚRGICA DO ATLÂNTICO: MAIS UM ELEFANTE BRANCO GERADO PELO LICENCIAMENTO AMBIENTAL "FAST FOOD" DE CARLOS MINC E SÉRGIO CABRAL


A matéria abaixo, publicada pelo Jornal O GLOBO não poderia ser mais emblemática da crise do modelo de licenciamento "Fast Food" idealizado e concretizado pelo ex-ambientalista Carlos Minc, atual (des) secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Depois de custar pelos menos R$ 695 milhões de reais aos cofres públicos e gerar nuvens gigantescas de poluição, a Companhia Siderúrgica do Atlântico está em condição comatosa, e o sede alemã do Grupo Thyssen-Krupp está pronta para desligar os aparelhos que mantém esse monstrengo ambiental em condição de doente terminal.

Esse modelo de licenciamento ambiental "Fast Food" é isso ai mesmo. Muito dinheiro jogado fora, a população do entorno ficando com o prejuízo ou sendo expulsa, e as corporações poluidoras se mandando ao menor sinal de problema.

Vamos ver agora o que o serelepe (des)secretário Minc vai dizer. Só não vale culpar os pescadores da Baía de Sepetiba. Afinal, esses são os únicos verdadeiros perdedores de todo esse desastre sócio-ambiental.


CSA vira elefante branco, está à venda e pode fechar alto-forno

Empresa já recebeu R$ 695 milhões em alívio fiscal

POR DANIELLE NOGUEIRA, BRUNO ROSA e GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER



RIO E BERLIM - Dois anos após sua inauguração, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), situada em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, se tornou um elefante branco para a cidade. Idealizada pela Vale dentro de sua política de atrair sócios para siderúrgicas no país e, assim, fomentar o mercado local de minério de ferro, a usina já recebeu um alívio fiscal do governo estadual de R$ 695 milhões. Com esse valor, seria possível construir 154 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ou 69 escolas públicas. O dinheiro, no entanto, ajudou a erguer um empreendimento envolvido em polêmicas ambientais e trabalhistas e que foi colocado à vendas pelos alemães da ThyssenKrupp desde maio. A Thyssen chegou a estudar a possibilidade de fechar um dos seus dois altos-fornos, o que reduziria à metade sua capacidade de produção.

Conforme informou a coluna de Ancelmo Gois no GLOBO no último dia 28, o governador Sérgio Cabral avisou que cortaria todos os incentivos fiscais da usina caso a ThyssenKrupp desligasse um dos dois altos-fornos. A possibilidade foi aventada em encontro recente entre representantes da siderúrgica e o secretário da Casa Civil do governo do Estado do Rio, Regis Fichtner. Segundo uma fonte ligada à empresa, a diretoria na Alemanha quer fechar um alto-forno, mas a ideia encontra resistência entre os executivos no Brasil, já que a unidade está à venda.

— Muitas empresas do exterior (possíveis interessadas em comprar a usina) estão visitando a CSA. Por isso, é importante ela estar funcionando a todo vapor neste momento — disse a fonte.

A CSA é uma sociedade entre a brasileira Vale (26,87%) e Thyssen (73,13%). A Thyssen já ofereceu sua participação à sócia Vale, mas a mineradora rejeitou. A avaliação de especialistas brasileiros é que os alemães terão dificuldades em vender sua parte na CSA, pois hoje há no mundo, segundo dados da World Steel Association (a associação mundial de siderúrgicas), um excesso de capacidade de produção de aço de 526 milhões de toneladas por ano, ou 15 vezes a produção brasileira.

— A CSA se tornou um elefante branco. A crise pegou os alemães desprevenidos. Eles haviam se endividado e viram a demanda por seus produtos cair de uma hora para outra — afirma Pedro Galdi, analista da corretora SLW.

— É difícil encontrar comprador neste momento. O setor está de cabeça para baixo, o que tem levado a práticas predatórias — diz Marco Polo, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.

Em Santa Cruz, nos arredores da usina, o clima é de apreensão. Funcionários desconversam, mas fornecedores confirmaram que o rumor sobre o fechamento de um dos dois altos-fornos da usina “circula há alguns meses”. A preocupação do diretor de Operações de uma das empresas que integram o complexo siderúrgico em Santa Cruz é que, caso isso aconteça, as demissões sejam inevitáveis e provoquem um efeito em cascata na cadeia produtiva. A CSA tem 5.500 empregados. Oficialmente, a matriz na Alemanha nega o possível fechamento.

— Temos um grande problema com a alta capacidade mundial de produção e a demanda fraca, o que já fez gigantes, como a Arcelor Mittal, desligar dez dos seus 32 alto-fornos, mas os nossos planos para a CSA, no momento, são de deixar os dois fornos ligados — disse ao GLOBO um porta voz da Thyssen.

Segundo ele, o grupo estuda diversas opções, incluindo a venda parcial ou total de sua fatia CSA, e haveria mais de dez empresas interessadas na siderúrgica. Os números do último balanço financeiro do grupo mostram que a situação da siderúrgica é delicada. Nos nove meses encerrados em junho, a CSA produziu apenas 2,5 milhões de toneladas de placas de aço, metade de sua capacidade. A unidade foi concebida em um projeto integrado com uma usina da Thyssen no Alabama, nos Estados Unidos. Pelo projeto, 80% da produção de placas seriam exportadas para a usina americana e os 20% restantes para usinas alemães.

Com a crise econômica mundial de 2008, a demanda por aço caiu drasticamente e ainda não se recuperou. Isso fez com que a divisão do grupo que reúne as unidades no Rio e em Alabama, a chamada Steel Americas, tivesse prejuízo de € 781 milhões entre outubro de 2011 e junho de 2012 — o ano fiscal alemão começa em outubro e termina em setembro. A perda fez o presidente mundial da Thyssen, Heinrich Hiesinger, acelerar as negociações para se desfazer das duas unidades. O executivo quer € 7 bilhões por elas.

Enquanto a Thyssen negocia a CSA, comerciantes nos arredores da fábrica temem pelo futuro da companhia e pelo de seus negócios.

— A receita do bar cresceu 15% com a chegada da CSA. Se a usina fechar, Santa Cruz fecha — diz Antônio da Silva, dono, junto com sua mulher Sebastiana, do Pinheiro’s Bar, que fica ao lado da usina.

Na crise, custo do projeto subiu

Raquel Gomes também está receosa. Ela fez do terreno onde mora um estacionamento e se gaba de já ter ganho R$ 3 mil por mês com o aluguel das vagas. Frisa, porém, que com o aumento da renda veio o aumento da poluição:

— A poeira entra na casa da gente.

Desde o início de sua construção, a CSA acumula uma sucessão de problemas. Foi alvo de ações do Ministério Público do Trabalho, contra a vinda de trabalhadores chineses, e do Ministério Público do Rio, que a acusou de crime ambiental. Em meio à crise internacional, a empresa reviu o valor do projeto, que saltou de € 3 bilhões para € 5,2 bilhões, puxados por variações no câmbio e maior custo de mão de obra.

Os incentivos fiscais obtidos pela CSA pelo governo estadual estão dentro do programa RioInvest. A empresa obteve crédito correspondente ao valor investido no projeto. Na prática, ela só paga 30% do ICMS por mês. O valor restante (70%) será pago no futuro. Os R$ 695 milhões em isenções já concedidos referem-se ao período de 2007 e 2010. A informação foi obtida a partir de requerimento do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) à secretaria estadual da Fazenda. Procurada pelo GLOBO, a secretaria não informou os valores concedidos em 2011 e 2012.