por Carlos Tautz
A revelação de que “Projeto bilionário de grupo canadense quer extrair ouro no Xingu” (Valor, 17/09) comprova o que vários opositores da construção da usina Belo Monte há anos vêm afirmando. A megahidrelétrica não é o único projeto que grandes grupos econômicos têm para a região onde está sendo erguida a planta energética mais polêmica do Brasil.
Vários especialistas afirmam que, sozinha e sem os subsídios governamentais, a usina não é viável economicamente.
Para fazer jus à montanha de dinheiro que o governo coloca no projeto (só o BNDES comprometeu-se com R$ 24 bilhões), é preciso haver razões ocultas, ou outros projetos “secretos” como este que agora vem à tona, o da corporação mineradora Belo Sun Mining, sediada em Toronto.
Os mesmos especialistas especulam que há outras usinas projetadas para o trecho a montante de Belo Monte. Assim, funcionando de forma articulada, garantiriam-lhe a viabilidade que isoladamente a usina não tem.
Com a revelação dos planos de mineração, vai-se explicando a insistência da direção do Ibama em contrariar seu próprio corpo técnico e aprovar uma licença ambiental manchada pela necessidade de seu consórcio construtor atender 40 condicionantes para emissão da licença.
Boa parte dessas condicionantes, que não estão sendo cumpridas em sua totalidade, são referentes justamente à região conhecida como Volta Grande, trecho de quase 100km de extensão que corre o risco de secar quando do barramento do Xingu.
Agora sabe-se para quê: “Nas terras indígenas da região do Xingu próximas aos canteiros de obras da UHE Belo Monte estão concentrados pedidos de autorizações de pesquisa e lavra de minerais nobres, como ouro, diamante, nióbio, cobre, fósforo, fosfato”, escreveu no jornal Correio da Cidadania a pesquisadora Telma Monteiro, antiga observadora dos megaprojetos na Amazônia.
Há muito os canadenses revelam sua intenção de explorar o ouro do Xingu. Em apresentação na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro em 2010, a Belo Sun Mining já afirmava que planeja o início da mineração em 2015.
De tão ambiciosos e impactantes, é absolutamente impossível que os planos não fossem de conhecimento do governo federal, seja por informes dos arapongas da Abin, seja por força dos canais que o Ministério de Minas e Energia cultiva com grandes corporações internacionais.
Não basta que os grandes projetos, causadores de irreversíveis impactos negativos sobre a sociedade e o ambiente, cumpram a legislação ambiental brasileira. Apenas isso não os legitima. É necessário que eles deixem de fazer parte de agendas ocultas e passem a ser discutidos pela sociedade, que precisa ter a oportunidade de opinar e, eventualmente, até de vetar seu desenvolvimento.