quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O Diário: Produtores fecham a RJ-040 contra desertificação


Manifestação: produtores registram prejuízos com salinização de água doce de lagoa e canal

Produtores rurais do 5º distrito de São João da Barra fecharam a RJ-040, a estrada que dá acesso ao Complexo Portuário do Açu, na tarde desta terça-feira, impedindo a passagem de caminhões. A manifestação foi para sensibilizar as autoridades ambientais e também a Justiça, para que tomem atitudes a fim de agilizar os processos em andamento nos ministérios públicos Federal (MPF) e Estadual (MPE). O impacto ambiental que teria sido causado pelas obras do complexo teria gerado pelo menos R$ 1 milhão em perdas de produção e afetado 1,4 mil famílias de agricultores.


Segundo pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), a retirada de areia do fundo do mar – para permitir que navios maiores aportem – estaria provocando a salinização da água doce da lagoa de Iquipari e do canal Quitingute, utilizada pelos produtores para irrigar a lavoura. A evolução do impacto pode causar um processo de desertificação na região.

Segundo o presidente da Associação de Produtores Rurais e Imóveis (Asprim), Rodrigo Santos, desde o início da drenagem da areia, foram perdidos 200 mil abacaxis e 200 toneladas de quiabo e maxixe. “Temos que calcular as perdas levando em consideração que podemos colher quiabo no mesmo pé por pelo menos dois anos. Isso significa que nossas perdas começam hoje e perduram a médio e longo prazo”, analisou Rodrigo.
A professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Ana Costa contou que “a LLX está expulsando famílias de casa, sem nenhuma preocupação com idosos ou crianças e sem indenização prévia”.

Mostrando uma folha de caderno, o produtor Reinaldo Toledo contou que o papel foi levado por um funcionário da LLX até a porta da sua casa, numa tentativa de negociação. “Eles me deram isso aqui e ofereceram R$ 289.873, nos meus três alqueires. Eu pedi R$ 200 mil por cada alqueire. Eles não aceitaram e não quiseram mais negócio comigo”, desabafou.

Através de nota, a assessoria da LLX informou que “conforme estudos e pesquisas acadêmicas já realizadas, a presença de salinidade nas águas subterrâneas e superficiais do Açu decorre da própria estrutura geológica da região, formada a partir do processo histórico de avanço e recuo do mar. As Lagoas de Grussaí, de Iquipari e Salgada, bem como o Canal Quitingute, são caracterizados como de água doce à salgada”.