quarta-feira, 27 de março de 2013

Solas e peles vermelhas


Por João Batista Damasceno

Rio - As políticas públicas do governo do estado se caracterizam por privilegiar as opções da classe dominante e aprofundar as exclusões. A pretexto de gerar desenvolvimento e empregos, o governo do estado promove remoções de comunidades tradicionais, despeja moradores regulares e compactua com o assassinato, pela polícia, de jovens negros e pobres na periferia.

Os governantes, com olhar seletivo para Paris e suas lojas de grife, não compreendem a diversidade da sociedade e se mostram inaptos para o exercício legítimo da dominação. Seu horizonte é Paris, com passeio de bicicleta e a cafonice de suas mulheres ostentando as solas vermelhas dos seus sapatos na Avenue des Champs Elysées.

O governo demonstrou sua incapacidade de governar para os grupos que compõem a sociedade quando das remoções dos índios de 17 etnias que constituíam a Aldeia Maracanã. A falta de compreensão do problema criado com o anúncio da demolição do prédio, posterior destinação para museu olímpico e a negociação conduzida por escalões inferiores, a começar por um delegado que chefia a Secretaria de Direitos Humanos e cuja manutenção no cargo depende dos arranjos para a sucessão do atual governador, contribuíram para lançar mais lenha na fogueira.

A questão dos índios não é apenas moradia. O que promovem é a defesa de sua cultura. E se o fosse, o hotel no qual o governador os hospedou não contempla esta natureza. Trata-se de um abrigo para populações de rua. Não satisfaz as demandas dos originários. Os moradores do hospital em Jacarepaguá, área prometida aos índios, já avisaram que o espaço é deles, ainda que os índios sejam bem-vindos como convidados.

O governo pretende formar na cidade ilhas de excluídos, ao invés de promover a inclusão com respeito à diversidade. Trata-se de um governo incapaz de compreender os problemas do povo e governar para suas soluções. Tal incapacidade não permite a promoção de soluções adequadas nem compreender que o problema criado por um Cabral há 500 anos poderá resultar em manutenção do problema por outros tantos anos.

Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da Associação Juízes para a Democracia