quinta-feira, 14 de março de 2013

Eike Batista e seu bufê de empresas singram mares revoltos


Os jornalistas Roberta Paduani e Maria Luiza Filgueiras da Revista Exame acabam de produzir uma análise devastadora da situação em que se encontra Eike Batista e as empresas da franquia "X", em especial a petroleira OG (X). 


Segundo, as jornalistas "Eike tem empresas de capital aberto que faturam em milhões e acumulam dívidas de bilhões. A dívida das companhias abertas soma mais de 16 bilhões de reais.".

De quebra, as jornalistas ainda cutucam Eike duramente quando colocam que "“O BTG é o primeiro na fila do bufê. Pode escolher o que quer financiar, onde investir e o que descartar”, diz um investidor da EBX. Restam poucas dúvidas de que Esteves tem pouco a perder e muito a ganhar com o acordo celebrado em março." O golpe final vem na afirmação de que ficam "na torcida, Eike Batista e os milhões de investidores que colocaram dinheiro nos seus projetos." 

Eu iria mais longe, pois os contribuintes brasileiros que não tem nada a ver com essa barafunda tem também muito a perder, já que o BNDES enterrou bilhões nas empresas de Eike, e agora arriscam a assumir coletivamente um ônus para o qual sequer foram convidados a participar dos eventuais bônus.

Como é um cara sagaz, Eike já adivinhando o que vinha pela frente se negou a colaborar com a matéria. Deve estar tentando arranjar um pouco daquele toque de mágica para atrair mais gente para o seu bufê de empresas em dificuldades.




O problema dos negócios de Eike Batista é mais embaixo


A parceria com o BTG Pactual pode ser um socorro para Eike Batista aliviar as finanças de seu grupo. Mas está longe de resolver os problemas das empresas “X” — o maior deles: encontrar petróleo no fundo do mar

Roberta Paduan e Maria Luiza Filgueiras, de


FABIO MOTTA/Agência Estado

Eike Batista: parceria com o banqueiro André Esteves, do BTG, ajuda, mas não resolve

Rio de Janeiro - O empresário Eike Batista costuma repetir que seus negócios são “à prova de idiotas”. Segundo ele, isso significa que suas empresas — ou projetos de empresas — são desenhados para ter retornos tão polpudos que podem aguentar todo tipo de intempérie.

Em junho passado, em meio ao enorme tombo de suas empresas na bolsa, Eike repetiu a frase a EXAME. A notícia de que sua petroleira vertia apenas um quarto do óleo que ele havia prometido para a época era apenas um percalço, disse. Todas as suas empresas estavam suficientemente financiadas e, mais cedo ou mais tarde, fariam as fortunas prometidas aos investidores.

O acordo fechado no começo do mês entre Eike e o banco BTG Pactual, de André Esteves, sinalizou que o empresário subestimou as intempéries que atingiriam seus negócios. Pelos termos do acordo, o BTG concedeu uma linha de crédito de 1 bilhão de dólares a Eike e assinou com ele um acordo de consultoria financeira para as empresas do grupo. A reação imediata do mercado deu a impressão de que a parceria entre bilionários era a salvação para o grupo de Eike, o EBX.

As ações da petroleira OGX, que haviam caído 84% nos 12 meses anteriores, subiram 16% num dia. As da mineradora MMX, 17%. Mas, passada a euforia inicial, foi impossível não constatar que os desafios enfrentados por Eike e suas empresas são grandes demais para ser resolvidos com um acordo dessa natureza. O maior deles: a OGX, carro-chefe do grupo de empresas de Eike, vai ou não encontrar o petróleo prometido a seus acionistas? Esteves, com todas as credenciais para o posto de Midas do momento, não pode ajudar a responder.

Os episódios que sucederam a parceria mostram a real profundidade dos problemas. Três dias após o anúncio do acordo, as ações da petroleira de Eike caíram 15% com a divulgação de seus resultados de produção, apresentados à Agência Nacional de Petróleo. A produção do terceiro poço da OGX veio abaixo do previsto — pior, ao entrar em operação, diminuiu a vazão dos outros dois. A notícia reforçou a percepção de que Eike exagerou nas promessas do passado.

Em 2010, a OGX anunciou que produziria 20 000 barris de óleo ao dia em 2011 (com um só poço). Dois anos depois, a empresa não consegue extrair 12 000 barris diá­rios, e com três poços em operação. Diante disso, são compreensíveis as dúvidas quanto aos planos grandiosos para o futuro.

Enquanto a produção prevista pela empresa é de 730 000 barris ao dia em 2015, os especialistas de petróleo da corretora Planner preveem 140 000 barris, e só em 2016. O banco de investimentos Bank of America Merrill Lynch cortou seu preço-alvo para as ações da OGX para 1 real. No mesmo dia, as ações custavam 2,6 reais. Um ano atrás, valiam 16,7 reais.

“Meia Petrobras”

A supervalorização de ativos em sua fase inicial é uma característica congênita dos empreendimentos de Eike. A característica foi fundamental na sedução de investidores que injetaram 26 bilhões de dólares nas empresas do grupo desde 2005. Eike já declarou que faria “meia Petrobras” em dez anos.

Está longe disso, e olha que a Petrobras não foi um exemplo de sucesso de lá para cá. As minas vendidas por Eike à mineradora Anglo American por 5,5 bilhões de dólares em 2008 produzem muito menos minério do que o previsto na época da operação. A empresa já assumiu um prejuízo no balanço de 4 bilhões de dólares com a compra no balanço. E por aí vai. 

Enquanto fala em organizar o Rock in Rio, operar um hotel de luxo na cidade, administrar a carreira de jogadores de futebol e arrendar o Maracanã, Eike tem empresas de capital aberto que faturam em milhões e acumulam dívidas de bilhões. A dívida das companhias abertas soma mais de 16 bilhões de reais.

Em caixa elas têm 8,3 bilhões (excluindo a holding, de capital fechado). Boa parte dessa dívida tem custo alto, além de ser de curto prazo. É fato que as empresas estão em estágio pré-operacional e algumas ainda em construção, como dois portos e um estaleiro. O problema é que o atraso de obras também afeta diretamente o resultado dos negócios. A geradora de energia MPX, por exemplo, tem receita garantida por contratos de fornecimento de energia por 15 e 20 anos.

Para isso, precisa construir as usinas e colocá-las em funcionamento na data certa. Caso contrário, terá de comprar energia de terceiros para entregar ao governo. Em 2012, a empresa perdeu 190 milhões de reais pelo atraso de duas­ térmicas. Neste ano, não fosse o perdão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), perderia mais 400 milhões nos primeiros cinco meses. Três usinas que deveriam entrar em operação em janeiro ainda estão em obras.

Como se sabe, em time que está perdendo, o estresse aumenta e as baixas também. Das seis empresas de capital aberto, apenas a MPX não trocou de presidente nos últimos 12 meses. Eike perdeu pelo menos 20 executivos-chave, que, antes, ele vendia como âncoras de credibilidade de seus projetos. A MMX perdeu dois presidentes.

Na diretoria financeira da holding EBX, que tem o papel de dar suporte às finanças do grupo, ninguém esquenta a cadeira. Em um ano e meio, três executivos passaram por lá. O alerta máximo foi dado pela passagem-relâmpago do empresário Eduardo Eugenio Gouvêa pela EBX. Contratado em 21 de janeiro deste ano, deixou o grupo no dia do anúncio do acordo com o BTG. 

A esperança dos investidores é que a entrada de Esteves dê ao grupo de Eike certa estabilidade. O banqueiro vai participar de um comitê estratégico que se reunirá semanalmente para discutir os rumos das empresas de Eike. “O BTG Pactual não participará da gestão de nenhuma empresa do grupo EBX. Nosso papel será assessorar e atuar em conjunto com o controlador”, escreveu a EXAME a assessoria do BTG.

Procurado, Eike não quis conceder entrevista. A partir de agora, o BTG é uma das partes interessadas na recuperação do grupo EBX. O banco é o terceiro maior credor de Eike, com 1,8 bilhão de dólares. A remuneração pela consultoria financeira será atrelada à variação das ações das empresas do grupo. O banco também abriu uma linha de crédito de até 1 bilhão de dólares, preferencialmente para aportes em projetos específicos.

Cada caso será avaliado, sem obrigatoriedade do financiamento. Ou seja, não há compromissos com valores firmados. O BTG ainda pode investir capital próprio, em vez de emprestar, quando considerar que o projeto justifica o risco. Nesse ponto, a parceria pode criar problemas entre a EBX e seus demais credores.

“O BTG é o primeiro na fila do bufê. Pode escolher o que quer financiar, onde investir e o que descartar”, diz um investidor da EBX. Restam poucas dúvidas de que Esteves tem pouco a perder e muito a ganhar com o acordo celebrado em março. Na torcida, Eike Batista e os milhões de investidores que colocaram dinheiro nos seus projetos.

FONTE: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1037/noticias/o-problema-e-mais-embaixo?page=1