terça-feira, 30 de agosto de 2011


BONDES: A FALÁCIA DA “MODERNIZAÇÃO”



Os bondes “modernizados” pelo governo já causaram pelo menos quatro acidentes com vários feridos e uma vítima fatal. E agora, chamado a reconhecer sua responsabilidade, o Governador Sérgio Cabral se limita a dizer que a Secretaria de Transportes deverá conduzir um novo processo de “modernização” e, o que é mais absurdo, depois de o próprio Secretário de Transportes Júlio Lopes admitir o fracasso da tentativa anterior.

A AMAST (Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa) informa que a modernização cara e criminosa que o governo anuncia ter feito dos bondes de Santa Teresa, com 14 milhões de reais, foi, na verdade, uma tentativa de transformação dos bondes em Veículos Leves Sobre Trilhos (VLTs) que já causou pelo menos quatro acidentes com vários feridos e uma morte. Se a “modernização” dos bondinhos, anunciada pelo Governo Cabral, for feita desse modo, poderá significar ainda mais riscos.

Em agosto, na sexta-feira, dia 19, um VLT perdeu o freio após dar passagem a um ônibus na mesma ladeira em que, há dois anos atrás, morreu a professora Andrea de Jesus Resende. No acidente de 16 de agosto de 2009, que também deixou nove feridos, o bonde desceu em ré sem freio depois de uma colisão com um táxi. No acidente mais recente, o VLT perdeu o freio simplesmente por dar uma freada. O bonde “Frankenstein” só parou por que bateu no táxi do Sr Ademir José da Silva, 58 anos, que trabalha no ponto Alto Glória Táxi. “Tive que parar o bonde com meu carro”. Silva está sem trabalhar desde então porque a frente de seu carro foi toda destruída.

Mas este não foi o único acidente. No domingo ensolarado do dia 17 de abril deste ano, Lívia Ruback pegou um VLT junto com sua irmã, Flavia, na estação Carioca, por volta das 17h30min. Na primeira ladeira, após passar pelos Arcos da Lapa, o VLT se deparou com um carro que vinha em sentido contrário, o que fez com que o condutor do bonde freasse. No entanto, ao invés de permanecer parado – com o freio em funcionamento ? o bonde também começou a descer a ladeira em ré com a velocidade acelerando. As irmãs enviaram o relato do acidente via o “Fale Conosco” do Site da Amast. Segundo elas, as pessoas assustadas pularam do bondinho e várias se feriram sem receber qualquer assistência que não fosse a dos vizinhos no entorno que as ajudaram com os ferimentos.

Várias pessoas ficaram em estado de choque e não receberam atendimento nem da polícia nem dos bombeiros, todos acionados. Veja trechos de seus relato:

“É realmente muito perigoso andar nesse bondinho, pois a infra-estrutura é precária e os freios não funcionam. E isso mancha a imagem do Rio e de Santa Teresa, pois haviam muitos turistas inclusive estrangeiros, que acabaram por desistir de conhecer o bairro (inclusive eu, que moro no Rio e não conheço) e aposto que nunca mais voltarão a andar naquele bondinho, nunca mais irão querer voltar em Santa Teresa (assim como eu) e talvez nunca mais queiram voltar ao Rio”. (Livia publicou sua história  no blog de Ancelmo Goes. )


Confirmando os temores dos moradores do bairro que sempre protestaram contra essa reforma cara que retirou dinheiro para recuperar os bondes antigos, os VLTs apresentam problemas nos freios desde que estavam em testes. No dia 1 de junho de 2008, pilotado por um engenheiro da T’Trans, responsável pelo seu projeto, o protótipo do VLT despencou rampa abaixo na oficina batendo em outro bonde e ferindo gravemente a perna de um funcionário.

No ano seguinte, dia 10 de agosto de 2009, logo que entrou em circulação, o VLT apresentou problema. O acidente foi do mesmo tipo dos relatados anteriormente: perdeu o freio na ladeira e desceu em ré até bater em um ônibus, na altura da banca do Getúlio. Na época a Amast divulgou esse acidente alertando a população sobre a irresponsabilidade de colocar esses bondes em circulação. Não adiantou nada. Menos de seis dias depois, ocorreu a fatalidade que matou a professora Andrea, deixando 9 feridos.

Depois do acidente de 2009, a Secretaria dos Transportes tirou os VLTs de circulação por alguns meses, mas apesar de o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea?RJ) ter dado um parecer, em março de 2010, condenando freios, os VLTs voltaram a circular no bairro.

Nossa única alternativa foi estender faixas nas casas do bairro alertando os turistas e os visitantes a não andar nesse veículo, visto que as autoridades públicas não só ignoram pareceres técnicos, sentenças judiciais, bem como apelos da população e da sociedade civil para que o Sistema de Bondes de Santa Teresa seja recuperado e tenha a sua manutenção em dia, como nunca se deram ao trabalho de informar aos turistas os riscos que corriam ao andar nesses veículos.

Aliás, a Secretaria dos Transportes deve saber desse risco porque, apesar de propagandear ter “modernizado” sete bondes, só mantém dois ? atualmente o de número 3 e o número 8 – em circulação. Aliás, no dia da tragédia, o VLT número 3 também apresentou problemas de funcionamento também na altura da banca do Getúlio (temos fotos).

O descaso do governo estadual para com os bondes é tão notório que basta verificar o estado atual dos gradis dos Arcos da Lapa, cuja reforma foi anunciada pela Secretaria dos Transportes após a morte do turista francês, Charles Damien Pierson, no dia 24 de junho. Até hoje eles continuam como estavam: totalmente deteriorados.

A modernização, longe de ser a tão alardeada solução, é um dos principais motivos da malversação da verba pública que deveria ter servido à restauração e recuperação do sistema de bondes. Em nome da modernização, entregou-se milhões à T’TRANS para que fossem construídos protótipos de VLT, os quais consumiram a verba que, se aplicada na finalidade original, poderia ter evitado as mortes e os acidentes ocorridos.

Não temos dúvidas em afirmar que a “modernização”, na forma alegada pelo Governado Sérgio Cabral, é uma das grandes responsáveis pelo descarrilhamento e morte deste Sábado, 27/08/2011, que marca para sempre a história dos nossos bondes e do bairro de Santa Teresa.