A MONOCULTURA DA CANA: ONDE HÁ FUMAÇA TEM FOGO
A grita promovida pelo setor sucro-alcooleiro do município de Campos em prol da manutenção do direito de continuar queimando os campos de cana para depois realizar a colheita possui vários méritos. Uma é demonstrar a força que as oligarquias rurais ainda possuem no Brasil e, por extensão, no estado do Rio de Janeiro. Só esta força pode explicar a velocidade com que foi aprovada uma lei estadual que é uma verdadeira autorização para a continuidade de práticas anti-ecológicas que não só agridem e degradam o meio ambiente, mas também causam incalculáveis custos à saúde coletiva. E olha que ainda não estamos levando em conta os graves trabalhistas que continuam existindo nas poucas usinas em funcionamento, e que tem servido para colocar o município de Campos dos Goytacazes com grande proeminência no mapa do trabalho escravo no Brasil.
Mas o que me causa espécie é a subida neste bonde de sindicatos de trabalhadores rurais e da própria Federação dos Trabalhadores da Agricultura do estado do Rio de Janeiro. Que os usineiros e seus companheiros de classe queiram a continuidade do status quo ainda vá lá. Mas que os que se dizem representantes dos trabalhadores apoiarem esta situação é vergonhoso. Talvez seja por isto que há tanto tempo os trabalhadores da cana tenham que contar com suas próprias mãos e com o Comitê pela Erradicação do Trabalho Escravo do Norte Fluminense para conseguir que seus direitos mínimos sejam garantidos após cada ciclo de produção.
Eu me arrisco a dizer que o setor sucro-alcooleiro de Campos talvez não dure o tempo que a ALERJ lhe concedeu para continuar poluindo e degradando. Todas as análises feitas pelo sindicato nacional das usinas indica que a fronteira do álcool e do açúcar agora está se dirigindo para o centro do oeste do Brasil. Ali estão sendo instaladas usinas ultra-modernas e prevalece o corte por máquinas. Além disso, a produção do centro oeste, principalmente de Goiás e Mato Grosso está sob firme controle de multinacionais, o que indica o perfil que este setor terá nas próximas décadas. Mas o problema é que se não houver a devida reação, as poucas usinas que sobraram vão continuar poluindo, degradando e, de quebra, realizando práticas trabalhistas extremamente duvidosas, para não dizer outra coisa.