terça-feira, 15 de novembro de 2011

"CONSULTA SOCIAL": POR QUE DEMOROU TANTO TEMPO PARA QUE ALGUÉM NOTASSE A PRÁTICA?



No já distante ano de 2004 foi defendida com sucesso no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da UENF uma dissertação de mestrado intitulada "IMPACTOS DA 'CONSULTA SOCIAL',NO ACESSO AO SISTEMA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ", onde essa prática na rede hospitalar pública e privada da nossa cidade foi analisada com o devido cuidado acadêmico. Em suma, o uso da "Consulta Social" é uma prática não apenas conhecida das autoridades, mas que já firmou fortes raízes institucionais. Aliás, quem quiser ter acesso a esta dissertação é só comparecer à Biblioteca do Centro de Ciências do Homem e pedir para ler o que foi ali demonstrado em relação à prática.

Assim, ainda que eu não esteja aqui sendo leniente com a prática de crimes, especialmente aqueles que podem dificultar o acesso dos mais pobres aos necessários serviços de saúde, creio que há algo de peculiar na prisão do ortopedista Hugo Manhães Areas pelo promotor Marcelo Lessa. Como o que eu disse acima parece ser de conhecimento geral, não são os médicos que arrecadam diretamente os valores cobrados sob a capa da "consulta social", mas funcionários dos vários hospitais onde a prática ocorre. Então por que só o ortopedista está em cana? Por que não os diretores dos hospitais campistas, e o da Santa Casa de Misericórdia de Campos em específico, estão passando o feriado nos locais que melhor lhes servem, e o médico está no dia de seu aniversário curtindo uma cela no Presídio Carlos Tinoco?

Se é para moralizar a situação, o promotor Marcelo Lessa deveria lançar imediatamente o Grupo de Apoio à Promotoria para algemar os figurões que gerenciam o sistema municipal de saúde, e quiça os dos sistemas estadual e federal. Afinal de contas é nos altos escalões que se decide, e se tolera, os maiores crimes contra o sistema público de saúde em nosso país. Do contrário vai ficar parecendo, como dizem seus críticos, que tudo não passa de mais uma encenação midiática.

 Por último, a manifestação do secretário municipal de Saúde, o médico Paulo Hirano, parece mais daquelas personalidades que preferem adotar a linha "não sei, não vi, não ouvi" do que responder por aquilo que lhe é devido responder nesta imensa bagunça que é o sistema público de saúde na cidade de Campos.