Eike paga excursão de autoridades Colombianas ao Brasil
GUSTAVO HENNEMANN
DE SÃO PAULO
Decidido a extrair carvão mineral da Colômbia, o grupo EBX, controlado pelo empresário Eike Batista, pagou excursões a autoridades locais que analisam o pedido de licenciamento de seus projetos em uma região de preservação ecológica.
Prefeitos, deputados, vereadores e funcionários de órgãos ambientais do departamento de La Guajira, no noroeste colombiano, vieram ao Brasil com todas as despesas pagas em viagens realizadas nos meses de fevereiro e março deste ano.
Divididos em três grupos, eles conheceram os programas sociais e ambientais mantidos por Eike e visitaram pontos turísticos do Rio, como o Cristo Redentor.
Os políticos e técnicos recebidos no Brasil estão diretamente envolvidos no licenciamento pendente de três projetos da MPX -braço da EBX para o setor de energia.
A empresa pretende extrair carvão de minas localizadas no sul de La Guajira para alimentar suas termoelétricas no Brasil e no Chile.
Para exportar o mineral, a MPX quer fazer uma ferrovia de 150 km até a cidade litorânea de Dibulla, no mar do Caribe, onde deve ser construído um porto próprio.
Para ambientalistas da organização colombiana Reclame, as obras prejudicarão rios e animais ameaçados de extinção. Também sofrerão impacto as dezenas de comunidades indígenas que vivem em reservas naturais.
A concessão das licenças ambientais para os projetos dependerá do Ministério do Ambiente da Colômbia e da Corpoguajira -órgão regional que enviou ao Brasil, às custas da EBX, o diretor, Arcesio Perez, e um subdiretor.
Perez disse à Folha que, na companhia de três deputados colombianos, visitou obras, projetos ambientais e também cidades turísticas na região de Petrópolis (RJ).
Em um outro grupo que foi ao Rio, estavam 7 dos 13 vereadores de Dibulla. Até novembro, terão de reformular e votar o plano diretor da cidade. O tema é de interesse da MPX, já que a regra atual não permite a instalação de porto na área comprada em 2010 para realizar o projeto.
A presidente da Câmara Municipal, Isaura Moscote Ortiz, disse que ela e os colegas sobrevoaram o Rio de helicóptero, visitaram instalações do EBX e pontos turísticos. "Nós não gastamos nada do nosso dinheiro. Fomos convidados especiais desde que subimos no avião."
Ao todo, cerca de 20 autoridades colombianas foram recebidas pelo EBX, que disse ter gasto aproximadamente US$ 5.000 com cada um. A Folha ouviu quatro deles e todos elogiaram Eike.
De acordo com a procuradora regional de La Guajira, Carmen de Vega, o Ministério Público já investiga a conduta dos funcionários.